11.3.09

Dos olhares trocados

Quase podia sentir as ondas sonoras lhe tocarem a pele. Cada acorde. As vibrações cintilantes. Vejo os contornos, o modo que cada linha simetricamente rabiscada não dá forma nem transcreve tua dor. Não foi pelo sexo, nem pelas tardes que nos permitíamos ficar jogados no gramado vendo figuras nas nuvens, ou por horas de companhia em silêncio bebendo e contemplando nossos pensamentos que ambos bem conheciam. Não foi por isso que permaneceu. Não. Era algo mais que a química envolvida, mais que cúmplices. O intenso êxtase a flor dos lábios. A simples ameaça de querer tocar e se manter hesitante. Apenas sentindo a respiração forte e ofegante. Os beijos roubados, ou dados por mera convenção. Todo o desejo na ponta da língua, que só as mãos sabiam descrever quando em contato com o corpo quente. Delicadamente tocado, tomado. Não eram esses os motivos que o fizeram ficar. Talvez as palavras que falta me falar, ou as coisas que deixei de te explicar.